Imprensa, Operariado e resistência: tenentismo e o episódio das “cartas falsas” no Correio da Manhã

Marcelo Xavier
34 min readOct 11, 2020

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Tenentes marcham pela avenida Atlântica na rebelião dos 18 do Forte

A grande celeuma nacional de 1921 foi o do episódio das “cartas falsas”, atribuídas ao candidato à presidência, Arthur Bernardes, e publicadas no jornal carioca Correio da Manhã em outubro daquele ano. Nas cartas, Bernardes criticava duramente os militares, na figura do Marechal Hermes da Fonseca, chamado de “sargentão”. As missivas, mais tarde consideradas apócrifas, foram o estopim da ruptura entre o exército e o então presidente, Epitácio Pessoa, e visavam justamente enfraquecer o candidato oficial, incompatibilizando-o perante as Forças Armadas (RIBEIRO, 1985, p.60).

Na década de 20, todos os donos de jornal passaram a agir como homens de combate (CASTRO, 2019, p. 47). O editor-chefe do Correio, Edmundo Bittencourt, por sua vez, era temido pela ferrenha oposição ao Catete e era conhecido como “derrubador de ministros”. Dessa forma, críticas pesadas e cáusticas aos líderes do governo e ao presidente eram comuns com frases, artigos de fundo e caricaturas.

Em particular, no entanto, no ano de 1921, o ódio de Bittencourt por Epitácio seria suficiente para que ele entrasse para a lista negra das “personas non grata” da política em seu jornal — nomes que eram sumariamente vetados das páginas da publicação. Como isso era impossível, já que se tratava do primeiro mandatário da República, a sua alça de mira estava sempre apontada para o Palácio. Ódio compartilhado por seu sub-editor, Mário Rodrigues. Afinal de contas, o paraibano Pessoa havia se metido nas querelas políticas de Pernambuco, apelando para intervenção federal a fim de favorecer a oligarquia dos seus parentes, os Pessoa de Queiroz (CASTRO, 1992, p.34).

Para isso, Epitácio mandou até Recife dos destóieres de guerra com canhões apontados para a cidade. Além do mais, o então presidente cortou as comunicações da capital pernambucana e contratou um bando de cangaceiros, à guisa de condottieres, para vencer a guerra. A partir de então, Rodrigues passara a chamar o presidente de “Nero de Umbuzeiro” nas páginas do Correio da Manhã, em alusão à cidade natal do chefe do Executivo. Epitácio naturalmente não tolerava os ataques, e devolvia os vituptérios de volta, acusando os diretores do órgão de “filibusteiros da calúnia” (CASTRO, 1992, p. 34). Ruy Barbosa, que acompanhava a briga de longe, admirava Rodrigues e naturalmente odiava também Epitácio, que o vencera no último pleito. Mas também acusava a imprensa em geral de “indústria prostibular”. Castro explica que disso ele devia saber muito bem, já que o senador também já fora dono de jornal, assim como praticamente todos os intelectuais e políticos de sua geração também fora um homem de jornal (idem, ibidem).

Sua decepção com o estado de coisas na imprensa, diz Ruy Castro, era explicável. Afinal, o Correio, como diz Nelson Cardena (2010), cometeu todos os pecados possíveis em sua historia, mas a publicação de uma notícia falsa jogando governo, oposição e forças armadas foi o ápice (CARDENA, In: NASSIF, 2010, s.n). Afinal, como se sabe, o episódio foi o estopim de um tiroteio político que teria “repercussões em toda a história futura do Brasil” (CASTRO, 1992, p. 34).

A relação entre Exército e Catete á estava estremecida desde quando, dois anos antes, Epitácio Pessoa havia designado para as pastas militares dois civis, algo que não acontecia desde os tempos do Império: Pandiá Calógeras para o antigo Ministério da Guerra e Afonso Pena para a pasta da Marinha (LOPEZ, 1983, p.52).

Em 1921, quando parecia evidente que Pessoa iria indicar Arthur Bernardes, o Clube Militar, presidido por Hermes da Fonseca, tomou a iniciativa de promover banquetes a fim de angariar fundos para a campanha do ex-presidente (que apoiava Nilo Peçanha) e contra Bernardes (CASTRO, 1992, p. 35).

Luiz Roberto Lopez (1983) observa que a cisão civil militar no campo político brasileiro vinha dos tempos da Campanha Civilista (1910) do próprio Hermes. Tais cisões, ao longo das décadas de 1901 e 1920 ainda estavam longe de uma ruptura radical mas se tornariam uma bola de neve que iriam se desdobrar ao correr dos anos, “minando irremediavelmente a estabilidade, sobretudo a credibilidade do regime imposto em 1889” (LOPEZ, 1983, p. 52).

O meio militar jamais engolira a nomeação de um civil como Calógeras. No entanto, o tal estopim foi cartas falsas. Elas foram dadas ao editor de plantão do Correio da Manhã, Mário Rodrigues, através de um senador de oposição, Irineu Machado. O senador apoiava Peçanha, mas faria campanha até a morte contra Bernardes. Machado estava acompanhado do suposto intermediário das tais missivas, um homem chamado Oldemar Lacerda. Segundo ele, elas eram de Epitácio, e agrediam o presidente da República e o Ministro da Marinha, Raul Soares.

A primeira delas dizia: “estou informado do ridículo e acintoso banquete dado pelo Hermes, esse sargentão sem compostura, aos seus apaniguados, e de tudo que nessa orgia se passou”. E concluía: “essa canalha precisa de uma reprimenda para entrar na disciplina” (CASTRO, 1992, p. 35).

Rodrigues perguntou à Lacerda de quem ele era intermediário. Ele não quis responder. Em seguida, leu a outra, esta não ofensiva, mas as respectivas caligrafias coincidiam. Na redação, o jornalista respondia pela editoria, pois Edmundo Bittencourt estava ausente, numa estação de águas. Contudo, os outros dois editores, Raimundo Silva e Costa Rego, também leram as cartas. Acharam que elas não poderiam ser publicadas sem verificação acurada. Como parecia ter uma bomba na mão e prevendo o impacto do material, bateu o martelo pela publicação, no dia 9 de outubro. Por medo ou parcimônia, eles sabem que estão com uma bomba no colo. Decidem publicar o material sorrateiramente nas duas últimas colunas da segunda página. Os leitores, no entanto, acham a matéria e a edição se esgota rapidamente. “Soltaram a segunda logo no dia seguinte — uma bofetada nos militares. (BAHIA, 1990, p.141; CASTRO, 1992, p. 35).

De acordo com Ruy Castro (1992), se a oposição queria abrir um rombo na candidatura de Bernardes em favor de Hermes da Fonseca, eles quase lograram êxito. Se elas eram falsas, entre fatos e versões, todo o resto da imprensa carioca foi atrás, repercutindo em charges e artigos em revistas e jornais. Ou melhor, como diz Nelson Cadena, a imprensa estava preocupada em tudo menos descobrir a verdade:

O Clube Militar atestou a falsificação, mas a imprensa não estava muito preocupada com isso, a estas alturas engajada na disputa eleitoral. E assim as cartas falsas alimentaram o debate, até o sufrágio dos eleitores em março de 1922, a abertura das urnas e a recontagem dos votos, exigência da oposição, até a confirmação da vitória de Bernardes (CADENA, In: NASSIF, 2010, s.n).

Em 1920, a Escola Militar do Realengo formava a sua geração mais rebelde: Luís Carlos Prestes, Antônio Siqueira Campos, Juarez Távora, Eduardo Gomes, entre outros (RIBEIRO, 1985, p. 58). Esses “jovens idealistas” (e que posteriormente influenciariam a política brasileira por décadas) ficaram indignados com as cartas. Como diz Castro, ou Bernardes provava a acusação de venalidade (a dura reprimenda aos envolvidos na campanha do Clube Militar) ou o candidato não poderia ser eleito; se eleito, não poderia ser empossado. Seus apoiadores juraram que eram falsas. Bittencourt, o dono do Correio, propôs que Cândido Rondon, um “nome impoluto”, desse o veredicto sobre a autenticidade. Este, por sua vez, achou melhor passar a responsabilidade alguém mais capacitado a arbitrar tal relevante questão para Ruy Barbosa que, por já ter opinião sobre o assunto, alegou ter juízo formado sobre tema e declinou.

Os originais foram então foram passadas para um perito em Paris, Locard, que declarou serem verdadeiras. Apoiadores de Bernardes então propuseram uma segunda opinião (achavam que Locard, que fora comissionado pelo editor do Correio, estava “engavetado”). O segundo perito, Ottolenghi, um italiano, declarou que elas eram falsas, e deu empate. Sem voto de Minerva, a polêmica seguiu meses a fio. E nesse meio tempo, o Correio da Manhã vendia toneladas de jornais puxando o fio da tese da veracidade.

Com a repercussão, o candidato situacionista era destratado publicamente no Rio de Janeiro, quando foi fazer campanha na Capital Federal. Porém, a campanha militar em favor de Hermes parecia fazer coro à tese de “sargentão” já que vetou o seu nome na chapa em favor de Nilo Peçanha, que naturalmente perderia as eleições fraudadas em 1º de março de 1922. Três meses depois, porém, numa surpreendente reviravolta na polêmica, Oldemar Lacerda declarou publicamente que ele era o intermediário de si mesmo e que ele fora o autor das cartas falsas. E admitiu que agiu de forma a beneficiar Hermes.

Contudo, o estrago estava feito. No manifesto contra Bernardes, o Clube Militar declarou: “existe, pois, um dilema: ou a nossa dissolução, ou o Exército não aceita que S. Exa. Seja Presidente da República” (REIS, 2014, p. 25). Luís Carlos Prestes, um dos soldados da Escola Militar do Realengo e do Clube Militar, não quis ser signatário do manifesto.

Dizia ele: “e se as perícias confirmassem a autenticidade das cartas, que fariam os militares?” (REIS, 2014, p. 26) Sua justificativa era simples: a despeito do caráter apócrifo das missivas, era como se elas simplesmente resumissem a relação entre o Executivo e o Exército. Os militares não ignoravam que as lideranças políticas pensavam exatamente aquilo que as cartas diziam. Apenas não o assumiam publicamente, mas era isso mesmo que pensavam. (REIS, 2014, s.n).

Prestes parece corroborar a opinião de Jean-Noel Kapferer (1993) . Ao falar sobre boatos e boataria, ele incomoda pelo fato de que ele pode se revelar verdadeiro (KAPFERER, 1993, p.7). Em tempos de guerra, ele anota, o inimigo e sua “orelha mítica” , a quinta coluna, podem interpretat algumaverdade cifrada nos boatos. “Isso basta para provar que o boato nem sempre é infundado”. No caso das cartas falsas, o boato, a rigor, de fato não deixava de plasmar o que o Catete pensava a respeito dos militares e de Hermes.

Além do mais, o rastilho de pólvora já estava chegando ao barril. Depois de cinco meses de polêmicas, ditos e não ditos na imprensa e a derrota de Nilo Peçanha jogou Epitácio Pessoa e Arthur Bernardes numa situação tão delicada quanto aparentemente incontornável. Conforme Daniel Arão Reis (2014), o descontentamento entre os jovens oficiais tinha fundamentos políticos que se relacionavam com a “decadência do sistema eleitoral, de caráter não-republicano e elitista daqueles sucessivos governos e da corrupção endêmica” (REIS, 2014, p.26).

Analisando a questão, Ruy Castro (2019) anota que, com três décadas de existência, os jovens oficiais tinham vergonha da situação do país. Desigualdade social, violência, analfabetismo, corrupção no governo e eleitoral, cujo voto de cabresto fazia a vontade de fazendeiros paulistas e mineiros, que tinham em suas mãos toda a máquina eleitoral (CASTRO, 2019, p.140).

Pois era justamente dessa máquina eleitoral — e principalmente partidária, cujas agremiações eram apenas suas ante-salas do poder que saíam os candidatos à presidência, transformando o Catete, ou o Palácio das Águias, situado no bairro de mesmo nome, numa extensão de suas plantações de café. Os dois partidos que se revezavam no governo: o Partido Republicano Paulista (PRP) e o Partido Republicano Mineiro (PRM) serviam apenas para a aristocracia do “café-com-leite”. Como diz Castro, em matéria de partidarismo, não havia representatividade. Dos 31 milhões de brasileiros, apenas 2 milhões iam às urnas. Os que iam vendiam seu voto, que não era secreto. Mesmo que fosse, o sistema de apuração podia protelar o resultado até que o escrutínio “achasse” os votos necessários para que o candidato oficial vencesse. Era um expediente tão fácil que não havia necessidade de campanhas ou de comícios. Epitácio Pessoa, o então atual presidente, durante o processo eleitoral, estava representando o Brasil na Conferência de Paz em Paris (CASTRO, 2019, p.141).

O Tenentismo e a Questão Social

Diante desse quadro de loteamento de poder pelas oligarquias e o descaso com a questão social, não era de se estranhar que os alunos que saíam das escolas preparatórias do Exército, como a de Realengo viam um outro país, e isso era fácil de perceber no Distrito Federal. A cidade crescia com cafés, redações, sindicatos, associações de classe, fábricas. Juarez Bahia (1990) observa que, nos anos 1920, o Brasil lutava por uma nova ordem que só vai contemplar na década seguinte. Para o autor, as crises,fossem elas econômicas, sociais e políticas, apenas agravavam as contradições que existiam na sociedade, “da classe média, dos trabalhadores e dos pobres — com o Estado” (BAHIA, 1990, p. 140). Nos quartéis, oficiais discutiam essas questões. “só se esperava pela hora em que a procissão fosse sair” (CASTRO, 2019, p.141).

Arthur Bernardes, o candidato governista eleito em 1922, perdera fragorosamente no Rio de Janeiro, mas vencera esmagadoramente pelo Brasil afora. Qual era a mágica? Todos sabiam. Os jovens oficiais, diz Castro, não aceitavam o resultado do propositalmente demorado escrutínio das urnas. Para eles, o episódio das cartas no Correio da Manhã fora a gota d’água.

A década de 1920 foi marcada por crises constantes no campo político e institucional, o que mostrava o acentuado grau de desequilíbrio no sistema republicano (RODRIGUES, 1997, p.45). Era possível perceber que a sociedade brasileira buscava organizar-se: eram criadas entidades representativas de grupos diversos dentro do espectro da sociedade civil. Enquanto uma parcela do empresariado criava o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP), grupos religiosos fundavam entidades, como a carioca Liga Pela Moralidade e o Centro Dom Vital. Nasciam também embriões de partidos políticos que, por sua vez, reivindicavam uma ampliação de canais de participação nas decisões governamentais (idem, ibidem).

Enquanto entidades de camadas da população procuravam espaço e voz no campo político, o grupo político emergente poderia ser dividido em três vertentes ou agentes: o liberal, hegemônico, representado por setores das oligarquias regionais; o militar, ou os tenentes, oficiais que liderariam movimentos políticos ao longo da década; por fim, a esquerda, que aglutinava intelectuais, operários e outros representantes de segmentos urbanos.

Virgílio Noya Pinto (1986, p.39) e Maria Nazaré Ferreira (1978) apontam que, um fato importante naqueles anos foi o desenvolvimento da imprensa operária no Brasil. Essa imprensa seria reflexo do próprio crescimento da classe trabalhadora no Brasil e da progressiva formação de ligas e sindicatos. Virgílio anota que se o positivismo foi responsável pela eclosão de uma imprensa de combate, no Segundo Reinado, o anarquismo foi a mola propulsora da linha de orientação no começo do século 20 (PINTO, 1986, p.39).

Chegado ao Brasil da Europa por imigrantes italianos, espanhóis e portugueses, a atuação da imprensa culminaria nas manifestações e greves em São Paulo em 1917 e no Rio de Janeiro no ano seguinte. Esses movimentos ganhariam força até serem sufocados pela repressão, além do o empastelamento de redações e tipografias dessas publicações, culminando no Decreto nº 4.269, de janeiro de 1921, ou seja, anterior ao episódio do Forte de Copacabana.

O período entre 1919 e 1922 foi um momento de transição e que marcaria a fase final da chamada República Velha (LOPEZ, 1983, p.52). Ele fala que a oposição tinha o hábito de manejar eventuais descontentamentos da caserna a seu favor. Afinal de contas, com eleições viciadas, sempre à favor da elite governante, imperava o voto de cabresto onde, como lembra Ruy Castro, ate os mortos se levantavam para votar”. Nas eleições entre Bernardes e Nilo Peçanha foi o momento em que, dentro do campo político, estados que eram diversos à política café-com-leite (Rio Grande do Sul, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro) formaram a Reação Republicana em favor de Peçanha, mas num rompimento entre estados não-hegemônicos com os hegemônicos. Enquanto esses apoiaram Bernardes, aqueles ficaram com Nilo Peçanha. E com esse expediente, fazendo uso da repercussão do caso das cartas falsas, “exploraram como puderam o descontentamento militar […] e procuraram desgastar a máquina estatal (LOPEZ, 1983, p.57).

Dessa forma, como observa Lopez, movimentos como o Tenentismo ou seus desdobramentos, como a Coluna Prestes-Miguel Costa e a Aliança Liberal foram bandeiras pela causa da renovação da estrutura vigente. Mais do que uma quartelada, tais movimentos seriam difíceis de conceber a não ser numa sociedade civil por tanto tempo imobilizada e infensa à mudanças.

O autor entende que o Tenentismo estava relacionado ao contexto das aspirações sociais tumultuadas que marcaram as décadas de 1910 e 1920. Em primeiro lugar, os alunos da Escola Militar de Realengo, ao contrário dos aspirantes da Praia Vermelha, eram mais politizados e vinham de camadas mais baixas da sociedade. Muitos historiadores se dividem: uns acreditam que os tenentes representavam as aspirações da classe média; outros não acreditam que seja possível pensá-los como representantes de uma classe ou instituição. Outros defendem que eles foram representantes de camadas médias urbanas que, na ausência de um partido (de acordo com o autor, o expediente do federalismo foi uma forma de anular a possibilidade de existência de partidos “representantes” da sociedade, que só apareceriam de fato com a República Nova) ou movimento que os representasse dentro do campo político, teriam, em parte, aderido à sua causa.

Autores como Maria Cecília Forjaz (1978) tem uma visão mais ampla para eleitos de interpretação teórica. Ela associa a ação dos jovens militares com aspirações de uma sociedade que mudava, com o aumento progressivo da participação popular em comícios e greves, ou seja, é justamente nesse interregno que a sociedade sai para a rua, mostrando a distância entre as políticas governamentais e as aspirações dessas camadas da sociedade. Além da cisão civil-militar, havia a enorme distância entre o governo e o povo.

Numa conferência no Teatro Lírico, no Rio, em 1919, o então Senador Ruy Barbosa reconhece, talvez pela primeira vez, que havia a emergência de uma “questão social” no Brasil. No entanto, em outra, na Associação Comercial, falando como candidato da elite para uma elite, ele entende que, num país de nivelamento social após a Escravidão, ele não admitia a existência de classes, crendo que tal filosofia era uma concepção que tendia à desagregação do povo.

Enquanto isso, naquele mesmo ano, o governador da Bahia, Antônio Moniz, consegue contornar uma greve geral no estado, quando decide acatar a Lei nº 1.309, que previa o cumprimento da jornada de oito horas, uma lei que não era cumprida. Ruy, seu inimigo político, o acusa de “acobertar […] insinuações de comunismo (RIBEIRO, 1986, p. 56). Sobre suas afirmações, de certa forma, pode-se dizer que, anacronismos à parte, Ruy não era nada menos do que uma pessoa do seu tempo, dentro do seu lugar como membro de uma elite política com sua respectiva visão de mundo. O que chama a atenção é que, mesmo assim, o contexto á falava de coisas às quais ele não podia deixar de perceber.

Em seguida, perde a corrida para o Palácio do Catete em favor de Epitácio Pessoa. Barbosa, republicano liberal, jurista renomado, advogado da Light, o “Água de Haia” acabou perdendo a presidência devido ao veto gaúcho aos candidatos da Política dos Governadores, No entanto, é possível depreender que, partindo de um luminar da República, de ouvidos moucos para o que estava acontecendo, a questão social seria empurrada adiante. Ruy morreria em 1923, sem ver a procissão sair. Ou, parafraseando Machado de Assis, de bem com os homens e consigo mesmo.

Mas, no fim da vida nem Ruy Barbosa não teria como contrariar os fatos. No final dos anos 1910, o operariado se estruturava: cerca de 50 mil deles fazem um grande comício na cidade de São Paulo nas comemorações do 1º de maio. Outros tantos decretam greve geral na Capital Federal. A reação do governo, no entanto, é implacável: jornais operários como A Plebe são empastelados enquanto muitos manifestantes de origem imigrante e anarquista são deportados sem julgamento (RIBEIRO, 1986, p. 56).

A onda anti-anarquista começou antes, em 1918, quando um agente provocador, Elias Ajos, infiltrado na Liga Anarquista, acusa a entidade de tentar promover um ataque ao Catete. A operação de bandeira falsa deu certo: dezenas de lideres anarquistas são presos, torturados e deportados. Até Jairo Oticica, circunspecto e estimado professor do colégio Dom Pedro II, anarquista, é demitido do cargo por conta de sua militância política (CASTRO, 2019, p. 96).

Nelson Cadena (2010) anota que a grande imprensa carioca e paulistana servia de cabo eleitoral que “atingiam a parcela da população autorizada a votar: a elite brasileira’ (CARDENA, In: NASSIF, 2010, s.n). No entanto, desde a década de 1910, a imprensa operária crescia, com publicações como o Barricada (1915), o Germinal (1919) ou o Alvorada (1921), entre muitos outros. No ano seguinte é aprovado o Código Civil. No mesmo ano, surge um “proto” Partido Socialista Brasileiro, porém de orientação anarquista, que era muito forte na época (RIBEIRO, 1985, p.51). em 1917, operários do Cotonifício Crespi iniciam greve geral em conseqüência do assassinato de um sapateiro, com manifestações de rua e queima de bondes, ondas de saques e repressão policial.

Na capital paulista, o tipógrafo e jornalista Edgar Leuhenroth havia fundado A Plebe em apoio às manifestações operárias, mas é preso e processado. Everaldo Dias lança o Manifesto dos Soldados e é expulso do Brasil. Leolinda Daltro e Bertha Luz realizam uma passeata de sufragettes, mulheres de classe média que se viam como trabalhadores e cidadãs. O movimento redundaria na Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, por Lutz, em 1922 (RIBEIRO, 1985, p. 52; CASTRO, 2019, 195–7).

Se devido à inúmeras greves na década de 1910 o operariado brasileiro foi garantido algumas conquistas sociais, os direitos não se revertiam em leis, permanecendo como “acordos com o patrão”. Por conta disso, era “fácil burlá-los, sem que isso trouxesse graves prejuízos morais aos empresários’ (RODRIGUES, 1997, p.30).

Embora fosse uma classe de contornos visíveis, os operários no tocante a constituição de uma consciência social, eles não conseguiam impor-se diante de uma sociedade que não os reconhecia como grupo que tivesse direitos como garantia de trabalho e pleno exercício da cidadania, que tinha visibilidade apenas como força de trabalho e “protagonista da “questão social” (idem, ibidem). Ao mesmo tempo, a causa operária passa a adotar uma postura de raiz socialista em detrimento do anarquismo, que influenciava o movimento sindical desde o começo do século. Também intelectuais e setores médios urbanos passam a abraçar o ideal da revolução proposta pela Terceira Internacional, algo que era considerado “ameaça ao regime”, por parte do governo brasileiro (RODRIGUES, 1997, p. 31).

Até o começo dos anos 1920, praticamente nada havia mudado nesse quadro. Até o final da década, apenas lei referentes à duração da jornada de trabalho e o estabelecimento de salário mínino. Ao mesmo tempo, o virtual candidato Arthur Bernardes acabou cindindo dessa vez a relação entre mineiros e paulistas, onde vários outros estados escolherem seus respectivos lados no tabuleiro do jogo político. Borges de Medeiros, contra o fim do federalismo no Brasil, se colocou contra. Já a vitalidade dos movimentos sociais decai progressivamente, em razão tanto da crítica às respectivas formas de organização existentes quanto à crescente repressão social. Afinal de contas, era uma eleição sem partidos políticos, e todos já sabiam quem ia ganhar e quem ia perder.

A respeito da repressão promovida pelo Executivo, o governo Epitácio Pessoa não media esforços em manter a ordem social: para ele, era preciso enquadrar os trabalhadores e eliminar focos anarquistas. Para tal fim, duas leis dariam suporte a tal projeto foi o citado decreto nº 4.247, de 1921, que ampliava possibilidades de expulsão de estrangeiros. O Catete acreditava que grande parte dos agentes desses focos eram os imigrantes. Dessa forma, a partir de agora, ela queria banir o anarquismo no Brasil. Quanto às leis Aníbal de Toledo e Celerada, pretendiam, entre outras coisas, repressão à entidades operárias (como fechar sindicatos por tempo indeterminado) e perseguição às suas respectivas lideranças, além de promover censura a jornais que tratassem da “questão social” (p.33) e, além de intelectuais de esquerda pertencentes ou à proto partidos comunistas, como o antigo PSB, de década de 1910 ou o braço brasileiro do Grupo Clarité, originalmente francês, e que foi fundado em 1921 por Maurício de Lacerda e Evaristo de Morais. (RODRIGUES, 1997, p. 40).

A partir de 1926, já no governo Washington Luís, projetos de lei que a Comissão de Legislação Social da Câmara, responsável, por exemplo, pela regulamentação da jornada de trabalho, por sua vez, eram jogados às calendas gregas: o próprio Departamento Nacional do Trabalho, criado em 1918, passa a funcionar apenas cinco anos depois. E, mesmo apenas como status de entidade consultiva, seria enfim aprovada, embora com forte resistência da classe patronal. Para eles, o departamento transferia a “questão social”, que seria de ordem pública, para a política (RODRIGUES, 1997, p. 36). Praticamente endossavam a opinião do Presidente, ao afirmar que a questão operária “interessava mais à ordem pública do que à social”. (RIBEIRO, 1986, p.80). Ou era, como na versão distorcida da frase, “um caso de polícia”. Se ele de fato pensava assim, a classe patronal paulistana criou, para o seu próprio gáudio, o Centro dos Industriais de Fiação e Tecelagem, entidade bastante ocupada em fazer uma “lista negra” de operários grevistas.

Por fim, em 1927, finalmente esse papel passou a caber ao Catete, com a criação do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), “estreitando a relação entre empresários e polícia” (p.36). Até sua dissolução, em 1930, o Bloco Operário Camponês (BOC), por exemplo, a despeito de ser uma representação institucional, sofria constantes perseguições: seus comícios quase sempre eram desfeitos à bala. Aos olhos do DOPS, por ser de origem operária, o BOC era considerado de caráter “revolucionário”. O “seu alcance institucional foi sendo restringido à força” (RODRIGUES, 1997, p. 46).

No entanto, a despeito de movimentos da imprensa “libertária”, greves, fundação de ligas e de partidos políticos, poucas mobilizações foram tão expressivas e que, ao mesmo tempo catalisaria todos esses elementos da sociedade civil como a Greve de 1917, episódio de grande escala e que pode ser considerado a efeméride que mostrou que a questão social tinha cara e tinha nome, como José Martinez, operário morto pela polícia e estopim da Greve, que paralisou serviços, comércio e encontrou adesões em outras cidades do Brasil. Essa era a questão social que Ruy Barbosa vislumbrou como epifania e Washington Luís, então prefeito de São Paulo durante as manifestações populares (a frase é atribuída à ele) como “caso de polícia”. Um país que, segundo o Censo de 1920, contava com 71,2% a média nacional da população que era analfabeta (LICKS, 2016, p. 22).

Dessa forma, como diz Lopez, o Tenentismo como movimento ou ‘tendência’ representou um momento de insatisfação na sociedade brasileira (p.57). Uma época de muitas mudanças e muita violência, o surgimento do povo não como uma abstração, mas como uma realidade ou, como anota Afonso Licks (2016), um Brasil insurgente que presidentes como Epitácio Pessoa cuidou de manter uma imagem do Brasil como o país ideal de paz e prosperidade principalmente no ensejo das comemorações do seu Centenário calando a imprensa que dava voz á oposição e impondo leis de repressão aos movimentos sociais (LICKS, 2016, p. 20).

Para Marly Rodrigues (1997), a década de 1920 foi um período de reivindicações como a regulamentação das relações trabalhistas e de maior participação política, o que colocaria em xeque o sistema de representação vigente na república, a cisão entre grupos hegemônicos na sociedade e a “intransigência dos que detinham o poder diante dos direitos das novas forças sociais” (RODRIGUES, 1997, p.22–3).

Como se operasse uma convergência de interesses entre grupos de campos diversos, uma parcela da sociedade aderiu à causa tenentista e seu ideário político, num período de dificuldade de estabelecer pontos de contato entre agentes não hegemônicos dos campos militar e civil, com vistas a um movimento, de certa forma, sintonizado pelo menos tento em comum a mudança do estado de coisas à guisa de um partido político de movimento que, de certa forma, foi o movimento tenentista.

No entanto, como se apresentando como um “partido” (já que os partidos existentes não eram de movimento ou sequer de raiz popular ou com vistas a ser) que granjeava cada vez mais visibilidade perante a opinião pública, porém, como diz Luiz Roberto Lopez, de caráter mais reformista que revolucionário, embora tenha adotado táticas de violência (em 1922) e de guerrilha (a partir de 1924) num movimento para o povo, porém sem o povo (DRUMMOND, 1985, p. 57; LOPEZ, 1983, p.53). Retrato de uma época de democracia ausente ou fraturada e de uma opinião pública pulverizada e aparentemente pouco coordenada, o impacto do Tenentismo, por falta de outra opção, uniria classes populares e jovens oficiais no que se poderia chamar de ensaio de uma homologia entre grupos distintos (tenentes, movimento operário e imprensa) mas com objetivos semelhantes. No entanto, apesar da oposição civil promovida pela Reação Republicana, essa mesma oposição, por ser tributária do grupo hegemônico dentro do campo político, não ia além da faz eleitoral em suas manifestações. Mesmo com suas limitações e seus defeitos, num caso primitivo em nossa cultura política, o Tenentismo, ao representar uma corporação ofendida, ele passou a falar, a partir de 1922 e 1924 em nome da própria nação.

Montanha dos abutres

Nos tempos do jornalismo impresso do começo do século passado no Brasil, qualquer história exótica rendia uma suíte de vários números, vendendo centenas de exemplares, desde a malfadada e derradeira viagem de Patrocínio Filho, quando acabou, em plena Primeira Guerra Mundial, deportado sob a acusação de espionagem, até a reportagem que não houve (CASTRO, 2019, p. 258), sobre um perfil de um caso de adultério, empreendida por Eugênia Moreyra (idem, p.326–7). Aliás, casos de adultério e escândalos em geral eram fartamente explorados pelo jornalismo classe “B” carioca. Um deles redundou na morte de Roberto Rodrigues, ilustrador do jornal Crítica e filho do editor-chefe, justamente Mário Rodrigues, o homem que publicou as tais cartas falsas atribuídas a Arthur Bernardes (CASTRO, 1993, 90–2), protótipo do que muitos chamariam hoje de fake news.

Num estudo sobre a guerra entre republicanos radicais e monarquistas, durante a República da Espada, Maria de Lourdes Janotti (1986) mostra como, na querela entre os dois lados no âmbito da imprensa, já eram recorrentes e incontáveis os casos de publicações de notícias falsas, principalmente em pasquins cariocas. Inclusive, muitas dessas desinformações veiculadas ajudaram a vender para a opinião pública da época que a revolta de Canudos, na verdade, se tratava de um levante que buscava a restauração monárquica, contando com o apoio logístico de maragatos como Assis Brasil e Silveira que, por sua vez, estariam aparelhando o arraial baiano com armas contrabandeadas da Europa (JANOTTI, 1986, p.117).

Até que se descobrisse a autoria das cartas falsas, ou melhor, a autenticidade delas, o Correio da Manhã fez ampla cobertura da sequência dos acontecimentos, e o resto da imprensa carioca, inclusive as revistas, como o Malho, publicavam charges a respeito do assunto. E, como se pode imaginar, a última coisa que a imprensa queria saber era se elas eram falsas ou não: enquanto o assunto rendesse, muitos donos de jornais vendiam exemplares aos milheiros. O fato ocorreu em outubro de 1921. Até o ano seguinte, muita água correu e não foi para apagar o rastilho de pólvora. Mesmo que as cartas fossem realmente falsas, como observou Prestes, em última análise, a polêmica girou mais em torno da pretensa afronta de Bernardes do que em esclarecer o que o Catete e o candidato governista de fato pensavam a respeito do Marechal Hermes da Fonseca. Da mesma forma, independente do resultado, a justificativa para uma resposta por parte dos oficiais do Exército já pairava no ar. Ou seja, no fim das contas, o episódio serviu mais para acirrar os ânimos e demarcar quem estava de qual lado nessa querela.

A revolta

No final de junho de 1922, os ânimos ainda exaltados com a derrota da oposição, Hermes da Fonseca virou assunto de novo ao declarar, sem papas na língua e sem protocolo algum, que Epitácio Pessoa usou o Exército como “guarda pretoriana” para impor uma ditadura em Pernambuco. Em resposta, o presidente fechou o Clube Militar e prendeu Hermes por insubordinação. Era o dia 3 de julho. O ex-presidente ficou preso por apenas um dia, mas os tenentes, em sua tréplica, e sob influência dos editoriais do Correio da Manhã, se rebelaram na Vila Militar, na Escola de Realengo e no Forte de Copacabana.

A ordem da prisão viera de Pandiá Calógeras, o civil Ministro da Guerra. A detenção não durou o prazo de um dia e era domiciliar: era mais um puxão de orelhas do que uma sentença de confinamento. Mesmo assim, nessas circunstâncias, um civil prendendo um ex-presidente militar, no outono dos seus 67 anos, já caluniado por toda a imprensa no ano anterior, era a humilhação suprema (CASTRO, 2019, p.139). Durante a breve pena, Hermes recebeu visitas e solidariedade de várias pessoas, que acorreram a seu apartamento, num quarto do Palace Hotel. Uma delas foi a de Eduardo Gomes, então primeiro-tenente lotado no Forte de Copacabana. Foi ele quem revelou sobre o plano do levante, marcado para a madrugada do dia 5. O marechal censurou a audácia dos oficiais, não deixava seu interlocutor terminar as frases. Gomes respondeu que nada podia ser feito: “a pedra havia rolado da montanha” (SILVA, 1964, p.113).

A adesão dos tenentes à causa em favor do presidente Hermes não era gratuita: ele era o Exército. Nascido de uma linhagem de militares, era sobrinho de Deodoro da Fonseca. Foi o responsável pela modernização da pasta durante sua gestão: reaparelhou unidades militares e fortalezas — inclusive a de Copacabana. Também idealizou a Escola Preparatória do Realengo, de onde saiu, em 1918 e 1922, boa parte da oficialidade que, naquele momento o idolatrava. A partir da escola preparatória da Zona Oeste do Distrito Federal, o Exército deixava ser uma cimeira aristocrática; ao invés disso, passava a admitir jovens de classe média e baixa, muitos deles tinham maior contato com a realidade brasileira. Em 1922, muitos daqueles aspirantes agora eram tenentes ou capitães. “[…] eles tinham idéias bem definidas a respeito do país — e alguns deles comandavam canhões” (CASTRO, 2019, 140).

E quanto a Arthur Bernardes? Como se viu, ele era impopular na Capital Federal. Nas charges das revistas, ele aparecia com feições caprinas, até que um autor de teatro cantado, Freire Júnior (com letra de Luiz Sampaio), aproveitando a polêmica das cartas do Correio da Manhã, escreveu uma marchinha para o Carnaval de 1922, intitulada “Aí, seu Mé”. A canção, gravada pelo popular Bahiano, ganhou a boca do povo no tríduo momesco, cantada até pelas crianças que, via de regra, não percebiam, na letra, as referências da sátira política, como a do “queijo de Minas bichado” (Bernardes) ou a do “Zé povo quer a Goiabada Campista” (Nilo Peçanha, natural de Campos). Peçanha não ganhou as eleições, mas Bernardes teve que ouvi-la até que, no “Palácio das Águias” (tal como é citado o Catete na letra), baixaria um decreto, em 1923, finalmente proibindo sua execução pública.

No momento em que Eduardo Gomes revelou a Hermes sobre os planos dos tenentes a respeito do golpe militar, ele explicara que, tanto a despeito da prisão do marechal quanto ao conseqüente fechamento do Clube Militar, instituição mais antiga que a própria República, foram incidentes no percurso de uma revolução que já estava em marcha. O futuro brigadeiro também revelou que todas as unidades da Capital entrariam em ação quando o Forte de Copacabana disparasse o primeiro tiro de canhão, na madrugada do dia 5.

Quando a unidade, localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro, não houve resposta dos outros fortes. Sem que muitos soubessem, Calógeras havia preventivamente trocado vários comandos no dia anterior como medida preventiva, sufocando boa parte da revolta ainda no seu começo. O Forte de Copacabana, pela manhã, tinha telefone, água e luz cortados. O comandante da unidade, no entanto, resolveu levar o plano até fim. A partir dali, com Euclydes, filho de Hermes, e Siqueira Campos na artilharia, eles começam a bombardear a cidade, visando unidades militares: atingem a sede do Ministério da Guerra e o Forte do Leme. Do primeiro alvo, mataram três civis. Uma tropa legalista de 3 mil homens providenciou a evacuação das ruas de Copacabana, do Leme até a rua Serzedelo Correa, enquanto ocupava os acessos dos túneis à Zona Sul (SILVA, 1964, p.236).

A disposição de luta era recíproca. O governo colocara dois couraçados na Baía, com canhões apontados para o Forte, enquanto monomtores biplanos Breguet 14 levantavam do Galeão para sobrevoar o local. Enquanto isso, Siqueira Campos e alguns praças minavam o local. Num ato extremo, o bairro todo poderia ir pelos ares, inclusive um grande bangalô à guisa de cabaré, contíguo ao Forte, na Rua Francisco Otaviano, o Mère Louise (CASTRO, 2019, 144). Mesmo que as tropas legalistas fossem invencíveis, os tenentes sitiados no final da Avenida Atlântica tinham munição e condições de, como num filme de Beau Geste, de resistir por dias.

Com o telefone cortado, foi pelo cabaré que eles souberam, através de Euclydes, que ligara ao Catete, que não haveria levante nenhum e que seu pai, Hermes, estava preso nas galés do couraçado Floriano. O Ministro foi convidado então para negociar de armistício com o Ministro Calógeras. Antes, solicitou que o telefone do cabaré ficasse livre para quando precisasse dar as condições da negociação aos oficiais e praças. Partiu para o Catete de bom grado, mas foi preso ao entrar num carro de praça e conduzido ao Palácio (LICKS, 2016, p.120–1). Agora que o filho de Marechal estava detido, o novo comandante agora era Siqueira Campos.

Do Palácio, pela linha quente do Mère Louise, Euclydes disse que os soldados só teriam a vida poupada se deixassem o Forte desarmados, e descessem a avenida até a praça Serzedelo Correa. Campos então deu ordens para que, desde solteiros até arrimos de família, se quisessem, estavam liberados para sair; dos quase 400 homens lotados no Forte, restaram menos de trinta. Após os últimos tiros, que atingiram o couraçado São Paulo, o sistema hidráulico dos canhões passou a falhar. Sem qualquer possibilidade de reparos, já não havia muito a fazer (SILVA, 1964, p 133–5).

Militar de temperamento enérgico, segundo aqueles que o conheceram, Siqueira Campos fazia o perfil dos jovens turcos da geração de 1918 e de 1922 da Escola do Realengo, oriundos das camadas mais baixas da sociedade. Não esquecera de quando era aspirante, e fora destacado, junto com outros alunos da instituição, a marchar contra operários da fábrica de tecidos Bangu, que protestava por melhores salários; foi quando teve conhecimento de suas demandas e da injustiça que sofriam. “Esses princípios, Siqueira levou para dentro do Forte no seu relacionamento com os praças e oficiais” (LICKS, 2016, p. 122).

Os vinte e oito homens restantes se prestaram a um derradeiro ritual: barbearam-se, fardaram-se e armaram-se. Os oficiais rasgaram as divisas, a fim de igualarem-se aos praças. Mais como líder do que como comandante, o tenente Siqueira, Antônio para eles, fez um pequeno discurso: disse que os resistentes seriam lembrados pela História, e que tinha esperanças de que, ao marcharem pela calçada armados, poderiam ocorrer adesões legalistas de última hora à causa rebelde. Ou que, num ato extremo, os legalistas se recusassem a atirar neles (LICKS, 1996, p. 123). Então recortou uma bandeira nacional em 29 pedaços. Deu um pedaço a cada um deles, que os prendeu cada um em sua respectiva farda, exceto ele, que ficara com dois pedaços — o restante simbolicamente pertenceria à Euclydes. Ato reflexo, cumprimentaram-se pela última vez, encheram os bolsos de balas e granadas. Atravessaram o pórtico do Forte, desviando-se em barricadas de arame e sacos de areia e ganharam a Avenida Atlântica deserta (CASTRO, 2019, p.146).

Em seu entendimento, ao falar aos praças, a marcha era aúnica chance de conquistar alguma vitória moral sobre Epitácio Pessoa. Para tanto, optariam pela desobediência civil: jamais dar o primeiro tiro. “Eles é que estão do lado da opressão […] porém, se eles atirarem ninguém aqui precisa de ordem para responder ao fogo e saltar para buscar proteção no desnível da calçada (LICKS, 2016, p.124).

A trégua que o Palácio do Catete concedeu aos rebeldes para a retomada dos bombardeios acabaria no começo da tarde do dia 6 de julho. Antes do prazo, os revolucionários já haviam iniciado a marcha. Do Mère Louise, surge um conhecido dos soldados como habitué do cabaré, um certo Octávio Corrrêa, e que seria imortalizado nas fotos históricas da revista O Malho. Depois, soube-se, era filho de estancieiros e natural de Jaguarão. Campos deu-lhe um fuzil, o pedaço de bandeira que seria de Euclydes. Seria o único civil e o mais velho da marcha. Ao todo, com Octávio, eram cinco oficiais e 24 praças (CASTRO, 2019, p.147; LICKS, 2016, p.123; SILVA, 1964, p.141–4).

Nada do que o tenente Siqueira esperava aconteceu. Os legalistas deram o primeiro tiro na altura da Rua Barroso (que hoje leva o nome do comandante da marcha), e não houve nenhuma adesão. Alguns curiosos, ao notarem a turba saindo da fortaleza, saltando barricadas e sacos de areia, evadiram-se rapidamente, pensando que os militares fossem abrir fogo contra eles (SILVA, 1964, p.145). A batalha duraria mais de duas horas. A duração em parte foi explicada pelo fato de que os soldados do governo tentaram, de todas as formas, evitar um massacre. No entanto, os rebeldes correram para as areias da praia, usando o desnível da calçada recém construída como abrigo e trincheira.

Um oficial legalista, Tenente Segadas Viana, se aproximou do pequeno pelotão rebelde. Pediu para que eles desistissem da marcha, pois seriam loucos se continuassem. Um deles, Mário Carpenter, que aderira aos rebeldes na véspera do motim do Forte, teria dito: “nós vamos ao Catete, tenente”. Insistiu com o mesmo argumento com Siqueira Campos. O tenente respondeu ao homem que a rendição de sua tropa seria à bala. “eu não pertenço mais ao Exército, assim como mais nenhum de nós. Temos vergonha da farda que vestimos”, teria respondido (SILVA, 1964, p.146–8).

Depois de consultá-los, o oficial legalista retornou ao seu posto e ordenou aos soldados do presidente Epitácio e do Ministro Calógeras para que abrissem fogo. Sem treinamento de combate, o primeiro a cair no asfalto foi o civil. Os restantes correram para o desnível da calçada, a fim de escapar das rajadas de metralhadora do 3º Regimento. Em duas horas de tiroteios, houve baixas dos dois lados. Enquanto houve munição, os combatentes do Forte lutavam à guisa de franco-atiradores, aproveitando-se da vantagem do desnível do calçadão.

Quando foi dado o último tiro, muitos se perguntaram como uma batalha tão desigual tivesse durado tanto tempo. Muitos entenderam que as hostes legalistas ensaiaram uma guerra de mentira, errando a mira, até que eles finalmente se rendessem. Como a luta se estendia, eles foram caindo aos poucos, como alvos de um tiro-ao-alvo de mafuá. O futuro brigadeiro e parlamentar, Eduardo Gomes, estava estatelado na calçada, com uma fratura de tiro exposta na perna. Já Mário Carpenter estava de borco no asfalto, jorrando sangue pela têmpora. Siqueira Campos, com um balaço no fígado, levado para a Santa Casa, no Centro, por milagre não morreu na mesa de operação. “O sangue da areia foi lavado naquela mesma noite pela preamar, mas o da calçada de pedras portuguesas levou muitos dias para desaparecer” (CASTRO, 2019, p. 147).

Ruy Castro observa que o resultado da revolta do Forte dividiu a opinião pública da época (toda a opinião pública exceto o povo). Enquanto a linha ultra-católica do Centro Dom Vital a considerava “antipatriótica”, a extrema esquerda, representada pelo Partido Comunista, simplesmente a chamou de “burguesa”. O Catete, por sua vez, censurou a imprensa e impôs estado de sítio, de forma a completar o serviço de limpeza com relação ao que acontecera: prendeu os diretores dos dois principais diários da Capital Federal, Irineu Marinho (de A Noite) e Edmundo Bittencourt (do Correio da Manhã) na ilha das Cobras. Por fim, colocou censores nos outros jornais do Rio, como O Imparcial, A Pátria e O Jornal (CASTRO, 2019, 147–8). O presidente da República, Epitácio Pessoa, tinha interesse em acobertar os fatos. Afinal, faltavam apenas dois meses para as comemorações do Centenário da Independência e nada poderia dar errado durante os festejos.

E com relação aos artífices do episódio das cartas falsas? Um ano depois do levante do Forte, o mineiro Arthur Bernardes era o novo ocupante do Palácio das Águias, a marchinha “Aí, seu Mé” estava proibida para execução pública. O Marechal Hermes da Fonseca, que ficou seis meses preso, fora libertado por habeas corpus em janeiro de 1923, tendo em vista sua saúde debilitada. Iria morrer oito meses depois. Mário Rodrigues, agora diretor do Correio da Manhã, o jornal responsável pelo escândalo, arrumou mais encrenca com Bernardes e Epitácio Pessoa: ele acusara o ex-presidente de corrupção, por conta de um colar, doado por usineiros de açúcar do nordeste à ex-primeira-dama, D. Mary, em 1920. O que poderia parecer um mero regalo, para o diretor do Correio era uma prova de que havia, por parte de Epitácio, mais do que mera simpatia e cordialidade entre ele e os usineiros (CASTRO, 1993, p.38).

Na verdade, o artigo fora escrito por Humberto de Campos, e Rodrigues entrou com o “pseudônimo”. Foi condenado por injúria. O diretor do Correio poderia ter se safado com uma pena mínima. Contudo, somou-se à isso todo o seu histórico de insolências contra os presidentes e um editorial, publicado dia 5 de julho de 1924, exaltando a bravura dos agora chamados de “18 do Forte”. O editorial foi considerado ofensivo e “incitamento à revolta” (ninguém imaginava, naquele momento, a respeito do que iria acontecer em São Paulo a partir daquele dia). Pelo artigo de fundo e por tudo o mais, Mário Rodrigues foi preso e condenado a um ano de prisão e o Correio da Manhã foi fechado. Edmundo Bittencourt e seu filho, Paulo, também foram condenados à cadeia, após decisão do Supremo, em agosto de 1924 (CASTRO, 1993, p.39).

Considerações finais

No momento em que o Executivo teria aparentemente encerrado o ciclo de revoltas tenentistas em quartéis, em 1924, esse movimento encontrou uma sobrevida numa marcha militar de 25 mil quilômetros que durou três anos, a Coluna Prestes. Na ótica de José Augusto Drummond (1985), ela representou, a despeito de sua proposta idealista e até antidemocrática, como entendem alguns historiadores (FORJAZ, 1977; LOPEZ, 1983, p. 54–5), o momento de maior crise política nacional brasileira desde os primeiros anos do regime republicano (DRUMMOND, 1985, p.7).

Seria possível dizer que essa crise se deu à medida que o governo e as elites brasileiras optaram por manter o sistema pontificado pela Política dos Governadores, relegando movimentos sociais e a ascensão de uma classe média urbana das outras metrópoles brasileiras a meros problemas menores e reduzindo a crescente questão social e suas respectivas pautas e demandas importantes, como a regulamentação das leis trabalhistas, a “caso de polícia”. Nesse sentido, é possível entender que o fenômeno do movimento operário entre os anos 1910 e 1920 seria reflexo de uma camada da sociedade civil que não encontrava espaço no debate público, não era reconhecida como classe e não era plenamente assistida, como observa Marly Rodrigues em seu livro sobre os anos 1920 no Brasil.

Ao mesmo tempo, como se pôde observar, ao longo desse ensaio, como a cisão entre o meio militar e o Executivo lograram provocar uma bola de neve, cuja conseqüência foi o questionamento da situação política vigente. Mas teria uma visão reflexiva sobre aquele estado das coisas e pegaria em armas contra o poder instituído, seria a geração mais jovem das casernas. Ela, à sua maneira e, dentro da sua visão de mundo — o que explica o seu caráter auto-suficiente e antidemocrático, tantas vezes acusado por parte dos historiadores do fenômeno, buscou mudar o sistema político de forma radical.

Como dissemos acima, com relação a quem jogava o jogo do campo político, como diria Pierre Bourdieu (BOURDIEU, 1983, p. 122–55), esse sistema possuía certas limitações, impostas tanto pelos agentes hegemônicos, que detinham em suas mãos formas de manter o jogo a seu favor, quanto ao caráter limitadamente inconformista dos agentes dominados do mesmo campo. Entre eles, estava uma parcela da imprensa que, por mais combativa que fosse, também sofria de restrições à sua atuação, limitando-se a “fazer barulho”, como no caso do Correio da Manhã e das “cartas falsas”.

Além do mais, dentro da mentalidade jornalística da época e também conhecendo as regras do jogo, a imprensa queria, antes de tudo, vender jornal. Isso por si só explicaria que o fato de que o Correio da Manhã, então um dos principais jornais do Brasil à época, decidisse endossar informações falsas, publicando as tais cartas falsas naquele fatídico mês de outubro de 1921, em pleno processo eleitoral. Apesar de conseguir prejudicar Arthur Bernardes, e a despeito de plantar orelhas de burro ao candidato governista, essa impopularidade se perdia num limbo democrático onde, pelo que podemos perceber, não havia uma opinião pública “consolidada” no Brasil e muito menos um sistema político “sadio” a ponto de que essa indignação pudesse lograr algum tipo de êxito por via eleitoral, por exemplo.

Isso, com efeito, não deveria passar incólume à ótica de muitos integrantes daquela geração tenentista que certamente sabia dessas limitações impostas pelo sistema político no Brasil. Ao contrário da considerável massa analfabeta do país da primeira República, dotados de relativo capital cultural, de forma a pensar um Brasil novo que passava naturalmente pelos filtros do seu ímpeto juvenil. Tanto que, só esse ímpeto seria capaz de movê-los a uma atitude como uma quartelada sem a cúpula militar, essa, ligada ao Executivo e, para o maior escândalo deles, comandada por um civil.

Aos tenentes, dentro de sua visão de mundo e de sua práxis, não restou nada a não ser uma rebelião sem a cumeeira e sem o povo, cujo símbolo maior foi a revolta do Forte de Copacabana. Num primeiro momento, eles entram no jogo do campo político com armas. Num jogo onde os dados estão viciados, eles não viam outra saída senão apelar para um expediente radical. Aos olhos de quem estava de fora do “campo”, parecia uma marcha suicida; porém, para os tenentes lotados no fortim da Zona Sul e que marcharam de peito aberto para a própria imolação, era uma questão de honra e um ponto sem retorno: não havia como voltar atrás. E o que parecia o fim, na verdade, era um começo. Existe um Brasil antes do5 de julho de 1922, e existe outro, que nasceu ali, de forma trágica, nas areias da praia de Copacabana.

Ruy Castro fala que a maré lavou o sangue dos mortos de 1922. Para a história, provavelmente o sangue não seria lavado nunca. O massacre seria lembrado em 1924, com outro levante tenentista, que iria desaguar na marcha de Miguel Costa para o oeste, até encontrar-se com uma coluna, vinda de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, sob o comando de Luís Carlos Prestes, simpatizante dos movimentos militares de 1922 (não participou porque estava com tifo) que foi punido com uma transferência para a região missioneira do estado. Por ironia do destino, ao transferir rebeldes e simpatizantes das revoltas, o governo acabou pulverizando o tenentismo. A Coluna Prestes, que marchou pelo território brasileiro entre 1924 e 1927. Quando ela terminou, o clima político já estava favorável a uma mudança, provocada pela Aliança Liberal (DRUMMOND, 1985). De certa forma, a Coluna, além de seus propósitos e de seu corolário, fez outro trajeto além do geográfico: ela simbolicamente levou as revoltas de 1922 e 1924 para a campanha eleitoral de 1929. E, em seus caminhos tortos, à revolução, no ano seguinte. Por outra ironia do destino, o último presidente da política “café-com-leite”, Washington Luís, ao ser preso pelos revolucionários de 1930, foi conduzido do Palácio do Catete para uma cela especial, justamente no Forte de Copacabana, onde tudo começou. Ali, o presidente deposto ficaria por um mês, antes de rumar finalmente para o exílio.

Referências

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BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In ORTIZ, Renato. Pierre Bourdieu Sociologia, São Paulo: Ática, 1983, pp 122–155..

CASTRO, Ruy. Metrópole à beira-mar: o rio moderno dos anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

CASTRO, Ruy. O Anjo pornográfico: a vida de Nelson Rodrigues. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

CADENA, Nelson. As cartas falsas na campanha eleitoral. Jornal GGN. Link: https://jornalggn.com.br/politica/eleicoes-politica/as-cartas-falsas-de-arthur-bernardes/. Acesso em 13.01.2020.

DRUMMOND, José Augusto. A Coluna Prestes: rebeldes errantes. São Paulo: Brasiliense, 1985.

FORJAZ, Maria Cecília Spina. Tenentismo e política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

JEANOTTI, Maria de Lourdes. Os subversivos da República. São Paulo: Brasiliense, 1986.

KAPFERER, Jean-Noel. Boatos: o mais antigo mídia do mundo. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária, 1993.

LICKS, Afonso. Octávio, o civil entre os 18 do Forte de Copacabana. Porto Alegre: Quatro Projetos, 2016.

LOPEZ, Luiz Roberto. História do Brasil contemporâneo. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983.

REIS, Daniel Arão. Luís Carlos Prestes. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

RIBEIRO, Darcy. Aos trancos e barrancos: porque o Brasil deu no que deu. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1985.

RODRIGUES, Marly, O Brasil na década de 20: os anos que mudaram tudo. São Paulo: Ed. Ática, 1997.

SILVA, Hélio. 1922: Sangue na areia de Copacabana. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1964.

SODRÉ, Nelson Werneck. Evolução social do Brasil. Porto Alegre: Editora da Universidade, 1988.

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